terça-feira, 29 de abril de 2014

Vampiros - Origem



A palavra Vampiro surgiu por volta do século XVIII. Tem origem no idioma sérvio como Vampir, e sua forma básica é invariável nos idiomas tcheco, russo, búlgaro e húngaro.

Lendas oriundas da Eslováquia e da Hungria, estabelecem que a alma de um suicida deixava seu sepulcro durante as noites para atacar os humanos, sugava o sangue e retornava como morcego para o túmulo, antes do nascer do sol. Assim, suas vítimas também tornavam-se vampiros após a morte. As civilizações da Assíria e Babilônia, também registram lendas sobre criaturas que sugavam sangue de seres humanos e animais de grande porte. Outros mitos pregam que as pessoas que morrem excomungadas, tornam-se mortos-vivos vagando pela noite e alimentando-se de sangue, até que os sacramentos da Igreja os libertem. Crianças não-batizadas, e o sétimo filho de um sétimo filho também se tornariam vampiros.

O lendário Livro de Nod, originalmente concebido por White-Wolf para o RPGVampiro - A Máscara, narra a origem dos vampiros. Além de A Crônica das Sombras revelando os ensinamentos ocultos de Caim; e A Crônica dos Segredosque revela os mistérios vampíricos.

A tradição judaico-cristã, prega a origem dos vampiros associada aos personagens bíblicos Caim e Abel. Como é descrito, Caim foi amaldiçoado por Deus pelo assassinato de seu irmão, Abel. Os Anjos do Criador foram até ele exigir que se redimisse. Orgulhoso, recusou-se e acatou as punições impostas pelos Anjos. A partir deste momento, Caim via-se condenado a solidão e vida eterna, temendo o fogo e a luz, longe do convívio dos mortais.

Caim foi anistiado por Deus após sofrer durante uma era inteira. De volta ao mundo terreno dos homens, fundou e fez-se rei da primeira cidade chamada Enoque. Mas ainda temia a luz, o fogo, e a solidão da eternidade.

Passado-se muitos anos de prosperidade em Enoque, Caim ainda sentia-se só devido a sua imortalidade. Abatido e desmotivado, acabou por cometer outro grande erro: gerou três filhos, que posteriormente geraram outros. Seguiram-se tempos de paz até que chegou o grande dilúvio e lavou toda a Terra. Na cidade de Enoque, sobreviveram apenas Caim, seus filhos, netos e uns poucos mortais. Caim recusou-se a reconstruir a cidade, pois considerava o dilúvio um castigo divino por ter subvertido as leis naturais e gerado seres amaldiçoados como ele. Assim, sua prole reergueu Enoque e assumiu o poder perante os mortais.

Após um período de paz e prosperidade, os sucessores de Caim passaram a travar batalhas entre si. A autoridade dos governantes foi revogada, e tanto os mortais como os membros da prole sentiam-se livres para fundar outras cidades e tornar seu próprio rei. Dessa forma, os imortais ascendentes de Caim, espalharam-se por toda a Terra.

Nesta versão da origem dos vampiros, vimos que tudo teve início com uma maldição divina atribuída a Caim, e depois herdada por sua prole. Porém, torna-se muito difícil estabelecer um limite entre os fatos e as lendas que circundam o mito vampírico, já que boa parte destas informações confunde-se entre os relatos e pesquisas históricas coerentes, com a ficção dos filmes e RPG’s.

Na lenda de Caim, a conotação do termo Vampiro ainda está ligada apenas ao sentido de imortalidade, solidão e aversão a luz. A relação estabelecida entre a longevidade e a sede pelo sangue (que caracteriza a imagem mais comum dos vampiros), deve-se possivelmente, a personagens lendários que viviam anos incalculáveis alimentando-se de sangue humano, após terem firmado supostos pactos com entidades malignas. Outras versões são encontradas em diferentes culturas, e todas combinam fatos históricos com a crendice regional. Portanto, a maior parte dos povos possui uma entidade sobrenatural que alimenta-se de sangue, imortal e considerada maldita. O mito do vampiro é um ponto comum entre várias civilizações desde a Antigüidade.

Uma das maiores referências do mito vampírico é o sanguinário Vlad Tepes (ou Vlad III), que existiu realmente no século XV na Transilvânia. Porém, ele governou apenas a Valáquia, que era uma região vizinha. Apesar da crueldade extrema com os inimigos, Vlad III não possuía nenhuma ligação com os vampiros. O termo Drácula (Dracul, originalmente significa Dragão) foi herdado de seu pai, Vlad II, que foi cavaleiro da Ordem do Dragão. Provavelmente, a confusão se deu através da semelhança entre os termosDrache, que era o título de nobreza atribuído à Vlad II, e Drac que significa Diabo.



A relação entre Vlad III e o mito vampírico foi dada pelo escritor Bram Stocker. O autor de Drácula inspirou-se (provavelmente) nas atrocidades cometidas por Vlad III, e as incorporou em seu personagem principal. A partir deste momento, Vampiro e Drácula tornaram-se praticamente sinônimos na literatura e nas crenças populares.

No Brasil também encontra-se mitos relacionados aos vampiros e outros seres semelhantes. Neste caso, os registros entrelaçam-se com o rico folclore das várias regiões do país. Desde os centros urbanos, até as áreas menos desenvolvidas do Brasil, é comum ouvir-se relatos dos ataques sanguinários de criaturas que perambulam pelas madrugadas. Na maioria das vezes, essas histórias assemelham-se muito com as lendas européias.

Na mitologia indígena existe o Cupendipe, que apesar de não possuir a sede de sangue caracterizada pelos vampiros, possui asas de morcego, sai de sua gruta apenas durante a noite e ataca as pessoas usando um machado.

No nordeste brasileiro conta-se a história do Encourado. Um homem de hábitos noturnos, que usa trajes de couro preto, exalando um odor de sangria. O Encourado ataca animais e seres humanos para sugar-lhes o sangue. Prefere as pessoas que não frequentam igrejas. Porém, os habitantes das cidades por onde o Encourado passa, oferecem-lhe o sacrifício de criminosos, crianças ou animais de pequeno porte.

Em Manaus, há relatos da presença de uma vampira que atacava os moradores, sugando o sangue através da jugular e deixando marcas de dentes em sua vítimas, exatamente como é contada nos cinemas. Após os ataques, a vampira corria em direção a um rio e transformava-se em sereia, desaparecendo na água. A Vampira do Amazonas possui a capacidade de transmutar-se e força física descomunal.

Em maio de 1973 no município paulista de Guarulhos, foi encontrado o corpo de um rapaz com as perfurações características em seu pescoço. Esse é apenas um exemplo da hipotética ação de vampiros em zonas urbanas. Neste caso, os relatos transcendem a fronteira da boataria e do folclore. by Spectrum


sábado, 19 de abril de 2014

Anhangá. O Espírito do Deus Selvagem



Nas cartas dos padres José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim fala-se de Anhanga como de um espírito malfazejo, temido pelos indígenas. O alemão Hans Staden chamou-o Ingange. O franciscano André Thevet registrou-o também. São todos do século XVI. Thevet (1558) notou que o Anhangá não tinha forma positiva. O certo era atormentar os viventes. Jean de Léry, o huguenote macio e doce, anotou o seu complicado Aygnhan, irmão de Agnan de Thevet, atormentador das gentes tupinambás. Até a lembrança do Aygnhan os fazia sofrer.
Os indígenas não gostam de sair das cabanas sem luz, tanto medo têm do Diabo, a quem chamam Ingange, o qual freqüentemente lhes aparece.
Gonçalves Dias (O Brasil e a Oceania) fala sobre o Anhangá como entidade inteiramente espiritual, responsável por todos os males selvagens. Gonçalves Dias ensina que Anhangá ou Mbaaíba quer dizer "cousa má." Parece, escreve o douto maranhense, que houve uma confusão entre os primeiros historiadores coloniais. O verdadeiro gênio do Mal era Jurupari e não Anhangá.
De minha parte creio firmemente que Jurupari nunca esteve perto de ser Demônio. É trabalho puramente adaptacional da catequese. Qual seria a função desse Anhanga (e não Anhangá) entre os índios brasileiros? Couto de Magalhães, que chegou a fazer uma teogonia tupi, explica:
Anhangá é o deus da caça do campo; Anhangá devia proteger todos os animais terrestres contra os índios que quisessem abusar de seu pendor pela caça, para destruí-los inutilmente.
O destino da caça no campo parece estar afeto ao Anhangá. A palavra Anhangá quer dizer sombra, espírito. A figura com que as tradições o representam é de um veado branco, com olhos de fogo. Todo aquele que persegue um animal que amamenta, corre o risco de ver o Anhangá, e sua vista traz febre e às vezes a loucura (o Selvagem, de 1870)
Teodoro Sampaio estuda o vocábulo no seu magnífico O Tupi na Geografia Nacional .
ANHÃ, s.c. Ã-nhã, a alma errante, o espírito que anda vagando; o gênio andejo, o diabo. Alt. Inhan, Inhang. Aignan, segundo J. de Léry.
ANHANGÁ, s. o diabo, o mau espírito.
ANHANGABA, s. a ação do diabo, a diabrura, o malefício. Alt. Anhangá.
O conde Ermano de Stradelli que não somente estudou o idioma nhengatu, mas igualmente hábitos e mentalidade de várias tribos amazônicas, escreveu no seu Vocabulário:
ANHANGA, ANANGA. Espectro, fantasma, duende, visagem. Há também o pirarucu-anhanga, iurará-anhanga, etc., Isto é haga, isto é, visagem de gente, de tatu, de veado, de boi. Em qualquer caso e qualquer que seja visto, ouvido ou pressentido, o Anhangá traz para aquele que o vê, ouve ou pressente certo prenúncio de desgraça, e os lugares que se conhecem como freqüentados por ele são mal-assombrados. Há também o pirarucu-anhanga, jurará-anhanga, etc., isto é, duende de pirarucu e tartaruga, que são o desespero dos pescadores como os de caça o são do caçador.
Um conhecedor dos assuntos americanistas, sabedor do folclore e etnografia do norte brasileiro, o Des. Jorge Hurley narra um episódio endossando a acepção de Stradelli quanto aos vários Anhangás para as muitas espécies de animais:
Na excursão que fiz do alto Guamá ao alto Gurupi, em 1919, através de 93 quilômetros de floresta, certa noite, no centro da floresta, ouvimos um assobio prolongado, estridente e feio...e os Tembês, impressionados, disseram-me que era a Paca-Anhanga que havia passado perto do nosso acampamento e cada um pôs à fogueira seu punhado de tirama (é farinha ) para afastá-lo do nosso pouso e todos murmuraram: "juáca-tupãna ! juáca-tupanã ! Deus do céu !
O padre Tastevin não discrepa da opinião clássica quanto à etimologia do vocábulo:
- Anhangá - etim. - Anhu, só alma; espírito maligno. Designava também as almas dos finados como consta da expressão - Anhangá y yora, viúva. i.e. o marido dela é Anhangá.
A tradição seguida por todos os estudiosos do Folclore indígena do Brasil é incidir no mesmo erro e laborar na confusão que Gonçalves Dias notava, há mais de setenta anos, embora não a quisesse corrigir. Gustavo Barroso somou Anhangá como o Deus dos pesadelos. O Deus dos pesadelos sempre foi Jurupari. Basílio de Magalhães, um legítimo sabedor, acha Jurupari e Anhangá como sinônimos, com diferenças meramente verbais ou de forma de materialização. Era no século XVIII, a opinião de Laet, anotando Marcgrave: Jurupari et Anhangá significant simpliciter diabolum. Jurupari, entretanto, não tem forma. Anhangá, o Anhangá clássico de Couto de Magalhães e de Barbosa Rodrigues, é um veado branco com os olhos de fogo.
Barbosa Rodrigues é indispensável em seu depoimento, sempre nítido, original e saboroso:
..se tem querido que o Anhanga amazonense seja por isso o mesmo Jurupari, quando não é aquele mais do que um núncio da desgraça, uma alma perdida, penada, que não foi para o céu, que vagueia no espaço sem que para isso Jurupari concorresse ou dela se apossasse, ou então, é um duende que não é mau e antes protetor e conservador (no Pará); somente alguém mal comete quando se vai de encontro ao que ele quer, isto é, que se poupe, na caça, o animal que mama ou amamenta e o pássaro que choca ou cria. O Jurupari não tem encarnação alguma e o Anhangá tem. A encarnação deste quando aparece ao homem é sempre sob a forma de um veado, de cor vermelha, de chifres cobertos de pêlos, de olhar de fogo, de cruz na testa, conhecido por Suassu Anhangá, que não é mais do que Suassu Caatinga, do Sul, ou Cervus simplicicornis, de Illerger, conhecido hoje por "Catingueiro" e que Azara denominou Guazu 'Birá.
O que se deduz é ter o indígena brasileiro dois vocábulos homófonos designando funções sobrenaturais perfeitamente diferenciadas. Anhan e Anhangá querem dizer alma, sombra, espírito. Tastetevin, Stradelli, Batista Caetano estão de acordo. O que atormentava interiormente o ameraba era "a alma do outro mundo", que ainda arrepia os fracos e predispostos. A "coisa-má" de Gonçalves Dias, aiua, aiba, má e anga, alma ou espírito é justamente, a alma penada que amedronta e terrifica. Barbosa Rodrigues ainda propõe aná, parente e onga, alma, a alma dos antepassados. A superstição brasileira referente aos mortos da família era vasta e profunda. Estavam os indígenas sempre dispostos a ouvir-lhes a voz longínqua, trazida pelas aves de agouro. O indígena teme imensamente, como o nosso matuto, a mbai-aib, a coisa má, a visagem, o fantasma, e para não vê-lo é capaz de todos os sacrifícios.
Ao mesmo tempo existia o Suaçu-anhanga, protetor da caça, castigador dos caçadores impiedosos e égide dos animais em gravidez. Era esta a outra entidade que perseguia a tranqüilidade dos brasileiros no século XVI. O Veado-fantasma, como todas as espécies animais que possuíam defensores (Couto de Magalhães, Stradelli) constituíam uma galeria suprema de ameaça e de respeito anormais. O indígena, entretanto, sempre flechava o veado, mesmo o "Catingueiro", tido por encantado. Pochi uassu suacuera suassu ananga, dizia um tuixaua a Barbosa Rodrigues, - "a carne do veado-ananga é muito má."Karl Von del Stein lembra que os Bororos não matavam nem comiam o veado-campeiro, o Suçuapara (Cervus campestris). A crença geral é que um veado, saindo inopinadamente do mato, anuncia um acontecimento grave...se não for abatido com um tiro certeiro. Essa superstição se mantém a mesma ente a população mestiçada que trabalha na extração da borracha, caucho, cravo, madeira, e naturalmente se infiltrou para os moradores brancos.
Uma lenda dos índios do rio Uaupés, afluente do rio Negro, Amazonas, recolhida por Brandão de Amorim, diz que uns veados estavam comendo as plantações e os donos o mataram. Carregaram os corpos para casa a fim de moqueá-los. Pela manhã vieram ver e encontraram, em cima do moquém, carne humana. Jogaram no rio toda a moqueada, horrorizados. Isto sucedeu no Iaureté-Cachoeira. "Duas luas depois, apareceram do Papuri pessoas que procuravam seu avô e mulher que se tinham daí sumido. Já então essa gente soube que aqueles dois veados que estragavam suas roças eram gente ! Assim, contam, lhes sucedeu, por isso hoje em dia a gente não moqueia mais veado dentro de casa.
O padre Tastevin recolheu uma estória semelhante em substância. Os negros Ba Kamba contam que um caçador encontrou dois antílopes que estragavam sua roça, e matou a fêmea e levou-a para a aldeia. Apesar de morta, esfolada, preparada, levada para o fogo, a antílope conservava a voz humana e perguntou para onde a levam. Assando, ainda fala. Quem comeu da antílope morreu. Sacudiram o resto no mato. Imediatamente o corpo se recompôs e a antílope, sã e completa, reganhou, numa carreira veloz, a floresta.
As lendas que Couto de Magalhães e Barbosa Rodrigues publicaram são referentes ao Anhangá da caça. Numa, ele ilude o caçador fazendo-o abater a própria mãe em castigo de matar animal em via de parto. Essa mesma lenda Stradelli a citou como pertencendo ao Corupira. Noutra estória, um veado, devorando as roçarias dos índios, ameaçou comer umas mulheres que diziam mal dele. Um Anhangá devorando mulheres seria novidade. Não há a menor notícia da antropofagia entre os seres sobrenaturais, matam, quando matam, não tocam no cadáver. Os animais fabulosos comendo carne humana já me parecem influência negra, como o Quibungo e mesmo as tintas gerais com que o seringueiro desenha verbalmente o Mapiguari.
A Anga, o Anhangá que sacudia de desespero o selvagem, Anga, era alma sem pouso, o espírito errante, significando diabrura, malefício, feitiçaria. Todos os povos tiveram essa mesma assombração para o espírito dos seus mortos. Assim, gregos, romanos, persas, chineses têm o mesmo sentimento dos nossos amerabas. Em todas as religiões do mundo as almas dos finados sem sepultura são demônios atormentadores. A Anga, alma dos mortos, não tem corporificação. É o pesadelo, é coisa má, é o medo sem forma e sem nome possível. O Anhangá que toma o aspecto de um veado branco, com os olhos de fogo é outra personalidade. É um nume protetor da espécie, superstição indígena, mito local. Para este é que se dirige o respeito da tradição cinegética. O Anhangá da caça é carabina dos caçadores insaciáveis e, mesmo morto, não podia ser alimento, como disse a Barbosa Rodrigues o indígena amazonense sobre o "Catingueiro". Vimos que os Ba Kambas pensam o mesmo de certo gênero de antílopes.
Muitas vezes desaparece a liturgia de uma crença e sobrevive apenas o respeito instintivo, a reminiscência esvaecida do rito, vivendo numa proibição de uso ou de renúncia, de reverência ou de obediência a determinadas restrições. A escola do "Tabu" como é muito vaga, plástica e complexa, serve para explicar atos inexplicáveis que são automatismos secundários, restos de cerimônias de cultos mortos. O Orongo é um animal sagrado para os mongóis, mas o coronel Prejevalski não mais encontrou justificativa dessa veneração. A pele de Nébi (Dendrohyraz emini) só pode ser usada pelos soberanos africanos, mas o explorador Casati nada pôde saber que explicasse o hábito.
O Anga ou Anhanga incorpóreo, atormentador dos ameríndios, bem poderá ser, verdadeiramente, o primitivo mito, único a ser compreendido pelos aborígines durante dilatados anos. O Anga assombrador, tido como Jurupari, como o pesadelo, parece-me ser o ur-mythus, o terror inicial. O Anhangá, mito zoomorfo, induz-me a julgá-lo de influência aloctônica. Esse nume, protetor, égide, guia defensor da caça, leva-me a suspeitar da criação africana com adaptação posterior e confusão natural com o preexistente Anhangá invisível.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Vodu :: Voodu


Vodu é uma religião caribenha misturada com religiões africanas tradicionais e santeria católica cristã. Originalmente associada a Haiti também é uma expressão espiritual forte na Jamaica e em São Domingos. Vodu é uma palavra nigeriana que significa divindade ou ainda espírito.

O Vodu haitiano, chamado de Sèvis Gine ou "serviço africano" no Haiti, tem também fortes elementos dos povosIbo, Congo da África Central, e o Yoruba da Nigéria, embora muitos povos diferentes ou "nações" da África têm representação na liturgia do Sèvis Gine, assim como osíndios Taíno, os povos originais das ilhas agora conhecidas como Hispaniola. Formas crioulas de Haiti de Vodu existem no Haiti (onde é nativo), na República Dominicana, em partes de Cuba, e nos Estados Unidos, e em outros lugares em que os imigrantes de Haiti dispersaram durante os anos. É similar a outras religiões da diáspora africana, tais como Lukumi ou Regla de Ocha (conhecida também como Santería) em Cuba, Candomblé e Umbanda no Brasil, todas essas religiões que evoluíram entre descendentes de africanos transplantados nas Américas.

O vodu está dominado pela crença nos loas, também chamados de mysteres, espíritos da terra, do ar, do fogo, da água e dos ancestrais. Os seguidores do vodu acreditam que Deus, Le Gran Maitre, é elevado demais para se preocupar com questões mundanas como a vida na terra, e assim os loas agem como seus intermediários em questões humanas.

No vodu, o ser humano é tido como sendo composto de cinco partes:



Corps cadavre
N’âme,
Z’etoile
Gros bon ange e
Ti bon ange
Assentamento do Vodu

Corps Cadavre se refere à carne mortal, o coro humano. N’âme é a energia vital que permite o corpo funcionar durante a vida, sendo correlato ao chi oriental. Z’etoile refere-se a estrela do destino de determinado indivíduo, é aquele eu-amahã para onde diariamente todos caminhamos. Gros bom ange (literalmente “grande anjo bom”) e Ti bon ange (“pequeno anjo bom”) constituem, por assim dizer, a alma do indivíduo.

O Gros bon ange entra nos seres humanos durante a concepção. É uma porção da energia universal, a condição de consciência que todos os humanos têm. O ti bon ange, pelo contrário, é a alma ou essência do indivíduo que se constrói durante á vida, ou seja, sua personalidade. É esta “pequena alma” que viaja para fora do corpo durante os sonhos, assim como também quando o corpo está sendo possuído por um loa.

A possessão é parte importante e algo extremamente desejável no contexto vodu. Um provérbio haitinano diz: “cristãos vão a igreja para falar com Deus, nós vamos ao hounfort (templo vodu) para nos transformarmos nele.” Os loa se apossam de uma pessoa viva, ato conhecido como “montar o cavalo”. Quando isso acontece a pessoa perde a consciência e se torna completamente um instrumento de um loa. Os gestos e as expressões faciais transformam-se nos do seu espírito possuidor. Esta crença esta tão enraizada no povo haitiano que faz parte até de seu processo de independência. Durante a guerra contra a França, os bokor (feiticeiros vodu) realizavam rituais no qual os soldados eram possuídos pelos mais poderosos e guerreiros Loas. Quem lutou contra os franceses não foram humanos, dizem os haitianos, mas semi-deuses. Verdade ou não, dotados desta convicção os haitianos lutaram ao ponto de libertar o seu pais.




Quando a pessoa morre, de acordo com a crença vodu, a alma permanece perto do corpo por uma semana. Durante esse período de sete dias, o ti bom ange é vilnerável e pode ser capturado e transformado em “zumbi espiritual” por um feiticeiro. Para que isso não ocorra, um sacerdote arranca-a ritualmente doc corpo para que a alma possa morar em águas escuras por um ano e um dia. Nesse ponto, os parente elevam a alma ritualmente e colocam-na no govi, agora conhecido como esprit. Esses esprits são alimentados, vestidos e tratados como divindades. Mais tarde são libertados e vão morar nas rochas e nas árvores. Eventualmente esses espíritos passam a fazer parte do intercambio espiritual entre humanos e Loas até seu renascimento. Dezesseis incorporações mais tarde, os espíritos se fundem na energia cósmica novamente.

Mas, o que torna o vodu único entre as religiões caribenhas são as crenças vinculadas ao lado mais obscuro da natureza humana. Isso reflete-se nos "Petro Loa", poderosos espíritos ameaçadores e vingativos portadores de doenças que só prestam ajuda mediante uma promessa de serviços e vingam-se violentamente se ela não é cumprida. Este é o chamado “trabalho da mão esquerda” praticado por seitas surgidas de diversas comunidades vodu. Essas seitas surgem sob o mais estrito segredo e são rejeitadas pelos praticantes da corrente principal do vodu.


Alguns desses Petro Loa são invocados via rituais para efetuarem perigosos serviços em troca de um sacrifício: normalmente um porco, um cabrito, um touro, ou as vezes um cadáver pego em um cemitério, quando não um verdadeiro sacrifício humano.

Em setembro de 1994 pouco antes dos Estados Unidos terem invadido o Haiti, supões-se que foi celebrada uma cerimônia vodu que durou três dias, no quartel militar da junta dominante, para evitar que os invasores continuassem seu avanço. Durante a cerimônia os Petro Loa ais violentos foram invocados e, relatos não confirmados dizem que foram recebidas pelo menos treze pessoas ao sacrifício. Talvez seja uma coincidência, mas em meados de outubro, três soldados suicidaram-se, entre eles Geraldo Luciano, que disparou contra sua própria cabeça enquanto jogava uma partida de cartas. Em um país onde freqüentemente os bokor fazem as leis serem cumpridas e onde as execuções são habituais, ninguém pode assegurar se ocorrem ou não sacrifícios humanos.

Dentre as seitas as mais terríveis são o Bizango e o Cochon Gris, que invocam os Petro Loa para prejudicar outras pessoas, praticam sacrifícios humanos (muitas vezes desculpas para assassinatos encomendados) e transformam pessoas em zumbis como castigo contra comportamentos sociais considerados incorretos ou que não condiga com os interesses dos bokor. Nas regiões mais remotas do Haiti, o vodu é muito poderoso, de modo a força estatal constituída ser praticamente irrelevante.

No ritual haitiano da invocação do loa, veves ( emblemas simbólicos de vários loas a serem invocados) são desenhados com farinha ou cinzas, no chão da clareira onde dois santuários são erguidos. No centro dos santuários fica o poteaumitan, o mastro central dedicado ao loa Legba através do qual surgem os loas. As velas coloridas apropriadas para cada loa são fixadas sobre os veves, e orações especiais são rezadas.

Selo, Sigilo ou Ponto riscado de Loa no Vodu

Veve

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Quibayo, culto a Maria Lionza




QUIBAYO Também poderia ser um derivado da Quimbanda, que é o que um dos ramos da prática religiosa do Congo tornou-se no Brasil. Em Cuba, as linhas Quimbisa / Kimbisa são da mesma região do Congo, embora separados por cerca de 150 anos de desenvolvimento adaptativo. Onareo Ogbe Di. E também é conhecido como “Maria Lionza”. Basicamente, uma mistura de africanos, indígenas crenças indo-venezuelana, espiritualismo e católica. Muito similar ao que é Umbanda no Brasil ou 21 divisões no DR. O culto de María Lionza encontra-se difundido um pouco por toda a Venezuela, mas o seu centro é o chamado “Cerrode María Lionza” no estado de Yaracuy, que integra uma formação montanhosa de nome Macizo de Nirgua. Este local, caracterizado pela sua intensa vegetação, é de alvo de peregrinações por parte dos participantes no culto, sobretudo na época da Semana Santa ou no dia 12 de Outubro (dia que até pouco tempo celebrava a chegada de Cristóvão Colombo à América, tendo sido readaptado como “Dia da Raça”). A Venezuela tem uma população de 27 milhões de pessoas. Destes, 30% veneram a mítica María Lionza como Deusa da Natureza, encarregada de proporcionar a purificação espiritual e a libertação de sofrimentos físicos.


De acordo com o antropólogo venezuelano Margarida Barreto (1990: 12), as mais antigas referências à esta religião são encontrados em uma série de testemunhos verbais do início do século, em que os agricultores da região de Yaracuy e algumas áreas adjacentes discutido a existência de uma devoção de corte ( veja os vídeos )para afro-venezuelano agricultor e Maria Rainha Lionza nas montanhas da Sorte. Naquela época, o culto foi confinada a esta pequena região e foi baseado em devoção aos antepassados, chefes principalmente indianos e os heróis da independência da Venezuela.(Ferrandiz FRANCISCO MARTIN, 1999)


Para eles “Maria Lonza é um deus vivo bucólico pacificamente nas florestas densas, remanzadas águas emgrutas mágicas, entre rebanhos de animais silvestres e rodeado por espíritos subordinado e obediente” Francisco Tamayo (1943).











quinta-feira, 10 de abril de 2014

Stregheria, Bruxaria Italiana


Stregheria é um termo usados para a antiga Bruxaria italiana, como também para se referir a um movimento moderno neopagão surgido na Itália e nos Estados Unidos a fim de resgatá-la. Na língua italiana, "Stregoneria" significa simplesmente Bruxaria.Para algumas pessoas, a Bruxaria Italiana é tida como a "Velha Religião" (Vecchia Religione, em italiano), culto neopagão italiano com origens nos velhos mistérios Egeu-Mediterrâneos. A stregheriaé uma religião iniciática imposta por diversos clãs, na maioria hereditários e extremamente herméticos.Já para outras, a Stregoneria é simplesmente a prática de bruxaria de influências italianas, desvinculada de religião, já que para Bruxaria Tradicional a mesma não é considerada uma 'Religião' per se, mas sim um Ofício, uma prática de feitiçaria independente da religiosidade.

Cultos



O Culto das Streghe Neo-Pagãs centra-se na figura da Deusa Diana e seu irmão e Consorte Dianus. Mas este Culto, deve-se deixar claro, é aquele mantido por praticantes modernos, e não correspondem a Bruxaria Italiana como um todo. Deve-se dizer ainda, como demonstrativo da variedade de práticas e pensamentos ligados a 'Stregoneria' que há muitos Stregoni e Stregheque focalizam sua prática em Santos Católicos, enquanto há outros grupos e praticantes que se focam na figura do Diabo e demônios menores. Portanto, não é possível generalizar a 'Stregoneria' como uma prática única, ou como um único Culto.


Quando feito dentro de famílias ou em grupos de práticas, os rituais da Bruxaria Italiana também buscam a cura, a fertilidade e a prevenção ou quebra do mal olhado, também conhecido como malocchio ou jetattura, bem como o amaldiçoamento de seus inimigos e feitiçaria para diversos fins, sejam benéficos ou maléficos.


Dentro das tradições das streghe ocorrem também ritos solares, obedecendo tanto às estações do ano, quanto à ciclos de plantio e colheitas nas diferentes regiões da Itália.

Segredos e práticas


Streghe ou bruxos se reúnem às noites de lua, dependendo de seu crescente ou declínio, e nos dias de sol intenso. À lua cheia são revelados os mistérios da tradição, enquanto os rituais solares são voltados para a adoração e a iluminação, e ainda o contato com a natureza, tão importante para nós. Os elementos têm muita importância para os streghe, e uma das práticas secretas é a Arte das Transmutações, em que se utiliza o magnetismo do olhar para impregnar pessoas e coisas, como os benzedeiros chamam de "Luz nos Olhos" ou "Olhar de Fogo", para os bruxos. O Brilho do olhar pode ser usado para o bem ou mal, mas a maioria dos streghe utilizam o fogo (para libertaçao) e a água (para purificação), visualizando o corpo em questão cheio destes elementos. A stregaria também mantém contato com espíritos familiares, elementais, anjos e devas, etc., mas tudo com objetivos definidos, sejam materiais ou de desenvolvimento espiritual. Muitas tradições qoltaram para o cristianismo mantiveram o simbolismo strega pelas gerações, e hoje constituem alguns dos principais grupos mantenedores da stregaria no Brasil. Apesar de misturada e muitas vezes enraizada no Cristianismo esotérico e no hermetismo, a stregaria mantém suas antigas tradições e rituais mediterrâneos, que morrem com os membros, mas cedo ou tarde retornam na família, através de sonhos, inspirações e até mesmo uma curiosidade.
Stregheria revelada



A Stregheria passou a ser conhecida graças ao folclorista Charles G. Leland, que no final do século XIX escreveu obras sobre o tema, entre as quais se incluem Aradia, Il Vangelo delle Streghe Italiane e Etruscan and Roman Remains in Popular Tradition. Leland conseguiu este material na Florença, onde mantinha contato com mulheres que se intitulavam Streghe (Bruxasem Italiano).

A maioria dos Clãs de Stregoneria são Politeístas, tendo um Panteão cheio de Deuses, Semi-Deuses e Raças de Espíritos, todos eles criados das deidades supremas que são Diana e Dianus. Alguns praticantes, no entanto, mantém seu culto firmado em algumas deidades, criando com elas uma espécie de aliança, não necessariamente sendo Diana e Dianus, embora, indubitavelmente eles sejam os mais cultuados.

As bases dos mistérios Stregonesci vieram principalmente de influências Etruscas. É importante lembrar, porém, que os romanos e assim, os ítalos tiveram muito contato com outros povos, dado à posição comercial e geográfica que os privilegiou em muitos momentos da história. Desta forma, desde os celtas que viveram no norte da Itália aos cultos e tradições trazidos pelos gregos que se instalaram na Magna Grécia, na Sicilia, influenciaram muito os modos, tradições e crenças das streghe, das fazedoras de magia, de curas.

Hoje, muitos praticantes de Bruxaria Italiana têm seus cultos e crenças enraizados também no Cristianismo e na cultura judaico-cristã, pois com a conversão dos romanos, muitos deuses e seus templos e cultos ganharam esse caráter, embora não tenham perdido sua essência e importância entre os praticantes recém-convertidos. Estes são atualmente aqueles que fazem suas curas em nome de Santa Luzia, São Miguel ou São Pedro, mas com magias e rezas, além do uso de ervas, plantas e especiarias.

Animulare, Tanarra, Janare, Strie, Strighe, Borde, Magare, Majare, Cogas, Masche, Basure são palavras sinônimas para "streghe" em diversos dialetos italianos. Foram erroneamentes tidas como 'Tradições de Bruxaria', mas na verdade são apenas palavras de diversos dialetos.
Clãs e tradições de Stregheria

A Stregheria contém em si várias ramificações que são chamadas de Clãs ou Tradições. Um Clã é formado por um conjunto de regras, liturgias, mitos e práticas em comum, onde os Stregoni e Streghe estão ligados entre si pela linhagem.

Outros grupos ainda, não tem um nome específico porque se desenvolvem em regiões, como resultado das vilas daqueles locais, ou em famílias. Nem sempre as famílias abrem ou mesmo assumem suas práticas mágicas, religiosas ou espirituais, por isso são muito pouco conhecidas.


Blessed Be

São Cipriano - O Feiticeiro



Começo dizendo que muitos confundem São Cipriano - O Feiticeiro com São Cipriano - O Santo "Papa Africano".

Existem muitos textos e até livros que acabam misturando as histórias e características de dois mártires mesmo que entre eles além do nome não há nada mais em semelhança.



Aqui está o texto mais conciso sobre São Cipriano O Feiticeiro

Cipriano – O Feiticeiro - é celebrado no dia 2 de Outubro. Foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências ocultas. Após deparar-se com a jovem (Santa) Justina, converteu-se ao catolicismo. Martirizado e canonizado, sua popularidade excedeu a fé cristã devido ao famoso Livro de São Cipriano, um compilado de rituais de magia.

A fantástica trajetória do Feiticeiro e Santo da Antioquia, representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade. São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia; é um símbolo da dualidade da fé humana.

O Feiticeiro

Filho de pais pagãos e muito ricos, nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.
Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.

A Conversão Cristã

Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.


Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela (também convertidos à fé Cristã) concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.

Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações e o Sinal da Cruz.

A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.

Os Fantasmas

Em um capítulo de seu livro, Cipriano narra um episódio ocorrido após sua conversão:
"Numa noite de sexta-feira, caminhava por uma rua deserta quando se deparou com quatorze fantasmas. Essas aparições eram bruxas que imploravam ajuda. Cipriano respondeu-lhes que havia se arrependido de sua vida de feiticeiro, e que havia se tornado temente a Jesus Cristo. Logo depois caiu em sono profundo, e sonhou que a oração do Anjo Custódio o livraria daqueles fantasmas. Ao despertar teve uma breve visão do Anjo. Assim, auxiliado pela oração de São Gregório e do Anjo Custódio, esconjurou e livrou a alma atormentada das bruxas."

A Morte

As notícias da conversão e das obras cristãs de Cipriano e Justina, chegaram até o imperador Diocleciano que se encontrava na Nicomédia. Assim, logo foram perseguidos, presos e torturados. Frente ao imperador, viram-se forçados a negar a fé cristã. Justina foi chicoteada, e Cipriano açoitado com pentes de ferro. Não cederam.

Irritado com a resistência, Diocleciano ainda lançou Cipriano e Justina numa caldeira fervente de banha e cera. Os mártires não renunciaram, e tampouco transpareciam sofrimento. O feiticeiro 
Athanasio (que havia sido discípulo de Cipriano) julgou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio

lançado por seu ex-mestre. Na tentativa de desafiar Cipriano e elevar a própria moral, Athanasio invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Seu corpo foi dizimado pelo calor em poucos segundos.

Após este fato, o imperador Diocleciano finalmente ordenou a morte de Justina e Cipriano. No dia 26 de Setembro de 304, os mártires e um outro cristão de nome Teotiso, foram decapitados às margens do Rio

Galo da Nicomédia. Os corpos ficaram expostos por 6 dias, até que um grupo de cristãos recolheu e os levou para Roma, ficando sob os cuidados de uma senhora chamada Rufina. Já no império de Constantino, os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João Latrão.


O Livro


O famoso Livro de São Cipriano foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida do Santo interfere também em seu livro. Uma parte dos manuscritos foi queimada por ele mesmo. A questão é que não se sabe quando, e por quem os registros foram reunidos e traduzidos do hebraico para o latim, e posteriormente levados para diversas partes do mundo.


No decorrer dos anos, o conteúdo sofreu alterações significativas.
Houve uma adaptação de acordo com as necessidades e possibilidades contemporâneas; além da adequação necessária na tradução para os vários idiomas. Esses fatores colocam em dúvida a fidelidade das versões recentes, se comparadas às mais antigas.

Atualmente, não é possível falar do Livro, mas sim dos Livros de São Cipriano. As edições capa preta e capa de aço; ou aquelas intituladas como o autêntico, o verdadeiro, ou o único, enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para campos negativistas e destrutivos da magia.






Num aspecto geral, encontra-se instruções aos religiosos para tratar de uma moléstia, além de cartomancia, esconjurações e exorcismos. A Oração da Cabra Preta, Oração do Anjo Custódio e outras da crença popular também são inclusas (Magnificat, Cruz de São Bento, Oração para Assistir aos Enfermos na Hora da Morte, etc.). Além dos rituais de como obter um pacto com o demônio, como desmanchar um casamento e da caveira iluminada com velas de sebo.

No Brasil, o Livro de São Cipriano é usado largamente nas religiões afro-brasileiras, e se tornou um "almanaque ocultista" de fácil acesso que se dilui na crendice popular. Há ainda os mitos que o cercam: muitos consideram ser pecado possuí-lo ou simplesmente tocá-lo. De qualquer forma, o tema São Cipriano e tudo que o cerca, é um campo de estudo e pesquisa muito interessante para os ocultistas, religiosos e aventureiros.


By Spectrum

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Druidas




Os druidas formavam uma classe poderosa dentro da sociedade celta – povo que, há 3 mil anos, habitava territórios onde hoje estão Reino Unido e norte da Espanha, de Portugal e da França, na Europa. Todos esses povos compartilhavam um mesmo tronco linguístico e alguns traços culturais. Dentre as diversas funções dos druidas na sociedade, as principais eram como intelectuais e conselheiros.

Considerados por muitos como magos e bruxos, a filosofia dos druidas era fundamentada nos princípios do amor e da sabedoria. Eles adoravam a natureza e estavam sempre em busca do equilíbrio com ela e com os outros seres. Além disso, cultivavam a música e a poesia. Ainda hoje é possível tornar-se um druida. O druidismo passou a ser considerado como uma filosofia de vida. O treinamento para se tornar um senhor de barba branca, vestido de túnica e sandálias de couro pode levar até quatro anos e há três classes de ensinamento.


SABEDORIA NATURAL

De acordo com o nível de instrução, os druidas podem exercer três funções diferentes

*Bardos*

Quem são: o primeiro grau de aprendizado druídico

Cor: azul

São cantores e poetas. Com a música, expressam as emoções, contam histórias e louvam os deuses. São treinados para passar a mensagem druídica, seus mitos e mistérios ancestrais. Em uma obra irlandesa do século 9, o Glossário de Cormac, os bardos vestiam um manto com penas coloridas.

*Ovates ou vates*

Quem são: magos e médicos formam a segunda classe druídica

Cor: verde

Espécie de xamã, os ovates possuem habilidades medicinais e supostamente mágicas. São conhecedores da astrologia e, em estado de transe, seriam capazes de se conectar com outros seres e o além. Poderiam prever o futuro e transmitir mensagens do outro mundo.

- Segundo o naturalista romano Plínio, o Velho, os druidas usavam uma foice dourada para colher o visco, erva sagrada que cresce nos galhos das árvores.

*Druidas*

Quem são: o último nível são os sacerdotes e juízes

Cor: branco.

Esta é a definição dos druidas: são os profundos conhecedores, conselheiros e responsáveis pelos rituais religiosos druídicos. São também juízes e, no passado, tinham funções políticas importantes.

- Originário de termos gaélicos, bretões e galeses, druida significa “aquele que tem a sabedoria do carvalho”.

- Júlio César teria inventado que os druidas eram adeptos do sacrifício humano para justificar sua campanha militar contra os “celtas selvagens”.

- O mago Merlin (ou Taliesin), que aparece nas lendas do rei Arthur, é, na verdade, um druida. É considerado “o maior bardo de todos os tempos”.

UM TREINO DE 19 ANOS

Aprendizado durava o mesmo tempo de um ciclo astrológico

Na Antiguidade, o treinamento de um druida podia durar até 19 anos. Isso porque esse período completa um Ciclo Metônico (criado pelo astrônomo grego Meton) – o tempo mínimo, em anos, para que os calendários solar (365 dias) e lunar (354 dias) se encontrem e também o tempo de intervalo entre dois eclipses idênticos.

ELES ESTÃO NO NOSSO CALENDÁRIO

Algumas das datas que celebramos hoje têm origem druida

Os cultos à natureza e aos fenômenos naturais são quase sempre o tema das festividades druídicas. O Sol é cultuado nos solstícios (verão e inverno) e equinócios (outono e primavera). Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, ocorriam o Samhuinn e o Dia de Todas as Almas, hoje refletidos no Halloween e no Dia de Finados.

Por: Olívia Fraga - Revista Mundo Estranho

FONTES: Claudio Quintino Crow, pesquisador de cultura celta e irlandesa, e Philip Carr-Gomm, escritor, psiquiatra e pesquisador do druidismo.